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Borderline e a angústia de separação

Os critérios descritivos do DSM-5 contribuíram para proporcionar maior confiabilidade do diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline, mas proporciona pouca utilidade para a compreensão da psicopatologia e desenvolvimento de estratégicas terapêuticas. (ELZIRIK et Al., 2015).

As características mais comuns do borderline, do ponto de vista psicanalítico. A angústia de separação, o dilema com a identidade, a clivagem, a questão do narcisismo, a agressividade, a impulsividade e o suicídio são problemas constantes na clínica do Transtorno de Personalidade Borderline. Esses temas estão presentes na teoria da maior parte dos autores que estudam o assunto e podem ser observados na prática cotidiana com estas pessoas.

No borderline, a natureza da angústia é de separação, de perda do objeto, correspondendo aos “esforços frenéticos para evitar o abandono real ou imaginado”, segundo o DSM-IV. O borderline estabelece uma relação de apoio (anaclítica) com o outro. O borderline angustia-se com o outro que não está presente, com a ausência da pessoa que possa lhe apoiar; sua angústia é de não poder contar com essa figura de apoio na hora em que necessitar.

Pode-se considerar que a preocupação materna primária falhou com o paciente borderline, e ele sempre precisará estar com o objeto para tentar recompor sua subjetividade não constituída.

Segundo Ogden (1994), discorrendo sobre Winnicott,

“O bebê requer a vivência de uma forma particular de intersubjetividade na qual o ser da mãe é vivido simultaneamente como uma extensão do bebê e como outro com respeito a ele. Somente mais tarde, o bebê poderá apropriar-se dessa intersubjetividade, ao desenvolver a capacidade para estar só (no sentido de Winnicott), ou seja, a capacidade de ser um sujeito independente da participação efetiva da subjetividade da mãe”

Justamente o borderline não é capaz de desenvolver esta capacidade para estar só, porque o ambiente não permitiu o desenvolvimento natural do bebê.

Dito de outra forma, Chabert (1999) escreve sobre a perda do outro nos estados-limite: “a perda do outro, quando ele desaparece, desencadeia a perda de si; perder o outro de vista não permite que se mantenha a sua existência como objeto interno, no interior do psiquismo, o que reasseguraria o sentimento de continuidade do existir”

 

O que acontece numa crise de separação

Medo intenso:
A possibilidade de separação pode ser sentida como um abandono real ou imaginário, gerando um sofrimento profundo.

Reações emocionais extremas:
A angústia pode manifestar-se em mudanças rápidas e intensas de humor, raiva desproporcional ou profunda tristeza.

Comportamentos impulsivos:
Ao lidar com o sentimento de abandono, o indivíduo pode ter comportamentos autodestrutivos, como automutilação, ideação suicida e envolver-se em relações sexuais de risco e outras compulsões.

Sentimento de vazio:
Uma sensação crônica de vazio pode ser aguçada durante as crises de separação, levando a ainda mais sofrimento.

 

Por que a separação é tão difícil

Dificuldade na regulação emocional:
Pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline têm dificuldade em regular as suas emoções e os conflitos emocionais.   Os causados por uma separação, podem ser avassaladores.

Vínculos instáveis:
Os relacionamentos tendem a ser intensos e instáveis, alternando entre idealização e desvalorização da outra pessoa, o que intensifica o medo de perder essas ligações.

Raízes na infância:
Traumas como abuso, negligência ou perdas na infância podem estar na raiz do medo de abandono, internalizando uma má representação de si mesmo e dos outros.

 

O que fazer

Procurar ajuda profissional:

A psicoterapia e, em alguns casos, a medicação, são essenciais para ajudar no tratamento dos sintomas do Transtorno de Personalidade Borderline, como a instabilidade emocional e o medo de abandono.

É importante dar atenção, ouvindo e ajudando a entender seus sentimentos.

Ameaças de suicídio e automutilação devem ser levadas a sério.

Referências

American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico  de transtornos mentais - DSM-V-TR. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Chabert, C. Les fonctionnements limites: quelles limites? InANDRÉ. J. (org.) Les états limites. Paris: PUF, 1999.

Eizirik, Cláudio;  Wolf, Rogério; Schestatsky, Sidnei.  Psicoterapia de orientação analítica:  fundamentos teóricos e clínicos.  3 ed – Porto alegrre.  Artmed. 2015

Ogden, T.H. (1994) Os sujeitos da psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
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